Conheça a história do café: Origem e trajetória pelo mundo

Que o café é queridinho entre muita gente, não é segredo para ninguém. Mas você conhece a história por trás desta bebida? Neste artigo, nós trouxemos todos os detalhes sobre o seu surgimento e os caminhos feitos pelos grãos.

O café surgiu há muito tempo, mas ninguém sabe ao certo como ou quando ele foi descoberto. No entanto, há diversas lendas sobre o surgimento do grão até a sua difusão pelo mundo. A mais conhecida é a de um pastor etíope que viu que suas cabras ficavam mais ativas ao ingerirem os grãos.

Apesar de ser a segunda bebida mais consumida do mundo, não há muitas informações precisas sobre o seu surgimento. Descubra as principais informações sobre o café e conheça sua trajetória pelo Brasil e pelo mundo.

A origem do café e a lenda etíope

Como dissemos, não há relatos históricos concretos sobre quando ou como o café se originou e espalhou pelo mundo. Provavelmente, o cafeeiro teve origem em Kaffa, ou Cafa, uma região alta do interior da Etiópia.

Há algumas histórias manuscritas que são contadas de geração em geração entre pessoas de todo o mundo.

Dentre as várias histórias que existem sobre a origem da bebida, a mais conhecida e considerada uma referência é sobre um pastor de cabras etíope. A lenda foi registrada por volta do ano 575 d.C.

Conta-se que um pastor de cabras da Etiópia, na África, chamado Kaldi, começou a perceber que depois de comer os frutos vermelhos dos arbustos do então cafeeiro, seus animais ficavam mais alegres, ágeis, saltitantes e tinham dificuldades para dormir à noite.

Ao perceber o que estava acontecendo, o pastor experimentou os referidos frutos e confirmou o que havia pensado. A partir de então, a notícia se espalhou, assim como o seu consumo, que ocorria de várias maneiras.

O fruto também se popularizou entre os sufis da região, que consumiam o café como bebida excitante para auxiliá-los nas rezas e vigílias noturnas.

De acordo com Ana Luiza Martins, no livro História do café, os etíopes começaram a consumir o café na forma de fruto. Eles se alimentavam da polpa doce ou misturavam em banha para fazer as refeições. Fora isso, faziam suco e deixavam fermentar para virar bebida alcoólica e as folhas eram mastigadas ou preparadas como chá.

Centenas de anos depois, ele começou a ser bebido por infusão. Os frutos eram fervidos em água e depois eram servidos para fins medicinais.

Comercialização do café na Península Arábica

Embora tenha sido originado na África, foi na Península Arábica que ocorreu o domínio inicial da técnica de plantio e preparação do café, assim como a produção para a comercialização, que começou no Iêmen.

No país, a partir do século 14, os pés de café foram cultivados em terraços, com a irrigação feita pela água dos poços que serviam a população. Em razão do controle sobre a produção, o Iêmen manteve o monopólio da comercialização por um longo tempo.

Lá, foi desenvolvido o processo de torrefação e a bebida chegou ao que conhecemos hoje, recebendo o nome em árabe de Qahwah.

Não demorou muito para que o café se propagasse com facilidade por toda a Península Arábica. Por sua característica estimulante, ele era o produto da vez que valia o investimento. E essa popularização no mundo árabe contribuiu para que a consagração do produto no mercado fosse efetiva.

No entanto, foi em Constantinopla, na Turquia, que o café se tornou um hábito para socialização. Primeiro, se tornou a bebida preferida do palácio imperial, e depois caiu nas graças de pessoas de várias classes sociais.

Lá, surgiu o Kiva Han, primeiro “café” – estabelecimento – do mundo, onde, de início, apenas intelectuais se encontravam em grupos para ler, conversar e se divertir. E, depois, ele tornou-se um ponto de encontro para que amigos e familiares tomassem uma boa xícara de café.

Por medo de rebeliões, o consumo da bebida chegou a ser proibido em tais casas, mas tempos depois, inventou-se uma forma de burlar essa regra e o consumo do café passou a não ser mais proibido.

As campanhas contra a bebida foram em vão, pois a partir daí, tomar café se tornou um ritual que tomou conta não só da Turquia, mas também do mundo afora.

Chegada do café na Europa

A cidade de Veneza, na Itália, era considerada o grande mercado de especiarias, artigos de luxo e o centro difusor dos produtos finos distribuídos para as cortes europeias. E foi por lá que o café chegou à Europa, no ano de 1570, já com as práticas de torrefação e moagem conhecidas.

O consumo entre os italianos, no entanto, só se popularizou no início do século 17. Como não apreciavam a borra do café turco, adotaram um método de preparação que consistia em jogar água fervente sobre o pó de café colocado em um filtro.

Os pontos de venda de café na Itália se tornaram verdadeiros espaços de socialização, com decorações sofisticadas, e foram se espalhando cada vez mais. A partir daí, não demorou muito para que os grãos conquistassem toda a Europa, que desejava as especiarias exóticas vindas do Oriente.

Porém, apesar de ser bem recepcionado por onde passava, no continente Europeu encontrou-se muita resistência por parte de religiosos da tradição católica, que chegaram a considerar o café como um alimento procedente do lado herege do mundo.

Na época, o papa Clemente VII chegou a ser convocado para resolver o impasse. Mas o que nem todos esperavam é que ele iria apreciar e até propor o batismo da bebida para que ela fosse considerada cristã.

Uma outra parcela de pessoas que se sentiu ameaçada pelo café foram os mercadores de vinho, que o viam como um risco econômico, já que até então eles dominavam o comércio de bebidas no continente.

O interesse pelas mudas e pelos grãos de café

Mesmo com tanta resistência, o café era altamente consumido e, pela sua potencialidade comercial, as ambições sobre ele também aumentaram. O interesse pelas mudas do pé e pelos grãos também acabou crescendo.

Foram os holandeses que obtiveram as primeiras mudas de café, que foram cultivadas em estufas do Jardim Botânico de Amsterdã. A partir de então, o cultivo se espalhou por várias partes do mundo, passando pela Índia, Sumatra, Timor, Bali, Malabar, Celebes, Suriname, França e ganhando outros locais.

Como e quando o café chegou ao Brasil?

É inegável que o Brasil tem um papel super importante tanto no que diz respeito à produção quanto ao consumo de café. Atualmente, o país é o maior produtor de café do mundo e o 14º na lista de países que mais consomem a bebida depois de pronta.

Mas a pergunta que muitas pessoas ainda não conhecem a resposta é: quando o café chegou ao Brasil e como conseguiu entrar no país? Nós vamos te contar!

Assim como todas as outras histórias sobre a difusão do café pelo mundo, as que são contadas no Brasil também têm algumas versões diferentes. Porém, segundo Ana Luiza Martins, todas elas falam de um mesmo personagem importante: Francisco de Melo Palheta.

Os relatos contam que o sargento-mor Francisco de Melo Palheta veio ao Brasil a mando de Portugal para reconhecer trajetos fluviais ainda não conhecidos do país a fim de defender o território de possíveis invasores e ir em busca de novos produtos agrícolas para serem explorados pela coroa portuguesa.

Como o Rio Oiapoque delimita a fronteira de um dos estados brasileiros com a Guiana Francesa e o país tinha conseguido cultivar as mudas de café com sucesso desde 1719, Palheta também recebeu a missão de conseguir algumas mudas clandestinamente. E foi o que ele fez.

Em 1927, Francisco de Melo Palheta trazia ao Brasil, mais precisamente ao estado do Pará, sementes e mudas férteis de café. Tudo isso graças à Madame D’Orvilliers, esposa do governador de Caiena, na Guiana Francesa, Claude D’Orvillers, que teria dado as sementes à Palheta em um gesto de gentileza.

Além de introduzir a planta no Pará, o sargento-mor também foi o responsável por cultivá-la em larga escala no país.

A trajetória do café no Brasil

Depois de conseguir as tão cobiçadas sementes, Palheta cultivou uma quantidade enorme de pés de café. Parte das mudas se transformou em mais de mil pés procedentes da família Coffea arabica, que era cultivada no Jardin des Plantes, em Paris. Eles estavam plantados no Pará e foram trocados com o governo por 100 casais de escravos.

A aventura econômica do café no Brasil começou quando ele foi sendo levado para outros estados brasileiros. Ele chegou ao Maranhão, Amazonas, Ceará, Alagoas, Goiás, Pernambuco e Paraíba, mas grande parte desses estados acabaram não rendendo o desejado, pois o solo era inadequado para o cultivo.

Tem-se notícia que a primeira exportação de café do Brasil ocorreu em 1731 e foi feita para Lisboa. Foram exportadas 7 libras do produto, o equivalente a 3,17 quilogramas, chegando até a ser noticiada no jornal Gazeta de Lisboa.

A cidade de Ilhéus, na Bahia, teve um destaque importante no início do cultivo de café no país. E, em 1798, 254 sacas de café foram exportadas, número considerável para a época, porém não tão expressivo quanto alguns outros produtos que seguiam para Portugal.

Após alguns anos, a planta começou de fato a se disseminar pelo sul do Brasil. Nessa época, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina conseguiram obter modestas lavouras de café.

Na década de 1890, o Brasil já produzia cerca de 70% do café mundial e exercia um certo poder de influência na oferta do produto. A essa altura, ele sustentava a economia brasileira, representando mais de 3/5 de suas fontes. Até o ano de 1910, o número de pés de café em São Paulo mais que triplicou e configurou as terras paulistas como o maior foco de produção cafeeira do Brasil.

Mas a queda da bolsa de Nova York, em 1929, abalou a economia mundial. Nessa época, os Estados Unidos eram os principais compradores do café brasileiro e isso impactou o Brasil de forma drástica. As exportações de café diminuíram e os preços caíram. Somente depois da crise, as produções foram se restabelecendo.

Após muitos acontecimentos e alguns momentos difíceis encontrados para a produção cafeeira no país, o Brasil é hoje o maior produtor de café do mundo e carrega esse título há um bom tempo. No ano de 2019, o país foi o responsável por mais de 35% da produção mundial total de café, produzindo 59,5 milhões de sacas de 60 kg de café, a maioria oriunda do estado de Minas Gerais.

A trajetória do café no Brasil, no entanto, não se limita aos fatos relatados aqui, tendo sido muito mais extensa e complexa do que os episódios dos quais tratamos neste artigo. Ela está entrelaçada com muitos outros acontecimentos que fizeram o país chegar ao que é hoje.

As ondas do café

Depois de conhecer um pouco mais sobre a história do café, é possível perceber que a bebida teve um histórico bem longo, com movimentos e fases diferentes durante todos esses anos, desde o seu surgimento.

Em cada período histórico, houve uma fase importante do consumo de café e cada uma dessas fases foram denominadas “ondas”. Atualmente, existem 4 ondas observadas em períodos diferentes da história. Confira quais são e as diferenças existentes entre elas.

Primeira onda do café

A primeira onda de café ficou marcada entre o final do século XIX e o início do século XX, época em que o consumo de café era crescente em todo o mundo e o Brasil já era um dos principais exportadores da bebida para diversos países, tendo-o como o principal produto de exportação.

Diferente do que vemos hoje, o café não era apreciado pelo sabor ou pela qualidade, ele era visto apenas como um produto de valor comercial muito forte. As pessoas o consumiam apenas pelos efeitos que ele causava, como dar mais estímulo e energia a quem bebia, por exemplo. O preço baixo também acabava chamando bastante a atenção dos consumidores da bebida.

Foi nessa época que o café deixou de ser visto como luxuoso e passou a se popularizar. A essa altura, já era possível encontrar o item facilmente nas prateleiras dos supermercados e nos lares de pessoas de todas as classes sociais do mundo todo. Uma outra novidade foi o aparecimento dos cafés embalados a vácuo e os cafés solúveis, também conhecidos como instantâneos.

Nessa primeira onda, a bebida era vista como um acompanhamento das refeições.

Segunda onda do café

A partir da década de 60, surgia a segunda onda do café. Nesse momento, as pessoas não bebiam mais o café apenas por beber, elas começaram a perceber que os grãos eram distintos entre si e passaram a apreciá-lo de uma forma diferente. A qualidade que não era tão sentida antes, acabou se tornando uma preocupação.

Por conta disso, os cafés especiais ganharam destaque e houve o surgimento de várias cafeterias e grandes redes de estabelecimentos. Os destaques dessa época ficam para a Starbucks e Peet’s Coffee. Esses locais eram aconchegantes e passaram a ser ponto de encontro. As pessoas não consumiam mais o café apenas no conforto de suas casas como acompanhamento de refeições, ele passou a ser consumido sozinho ou em conjunto com outros produtos em várias ocasiões ao longo do dia.

Nessa mesma onda, o uso das máquinas de expresso, que já existiam, também se expandiu. E novas bebidas à base de café também foram surgindo nas cafeterias mundo afora.

O número de profissionais baristas também aumentou, assim como a procura por conhecimentos técnicos sobre a bebida. O café agora tinha novos aromas e sabores, e acabou atraindo o público mais jovem para consumir a variedade de bebidas que podiam ser feitas à base dos grãos.

Terceira onda do café

Na terceira onda, a origem do café começou a ser buscada, e mais do que nunca as pessoas estavam interessadas nos aromas e nos sabores que os diferentes grãos de café proporcionavam. Essa onda começou em meados dos anos 90 e os cafés especiais ganharam ainda mais força.

Nessa época, as cafeterias precisaram se especializar para conseguir entregar o que os clientes queriam: qualidade. Os baristas ganharam ainda mais força, se estabelecendo no mercado. A sustentabilidade e a realidade por trás das produções também começaram a ser valorizadas.

Baseando-se na qualidade dos grãos, pequenas cafeterias com cafés exclusivos foram surgindo. Cresceu a busca pelos perfis de torra, métodos mais refinados de extração começaram a ser explorados e aumentou a busca pelo conhecimento das notas sensoriais.

As pessoas não se contentaram apenas com as idas às cafeterias e conseguiram aprender mais sobre o café, levando para a suas casas os processos de escolha dos grãos, moagem, preparo em diversos métodos e apreciação.

A terceira onda é marcada por todas as características que nós já falamos, porém, o destaque maior fica por conta da experiência que a bebida passou a levar ao consumidor. O café passou de uma bebida corriqueira e casual, para um momento de apreciação de diferentes aromas e sabores.

Quarta onda do café

Mesmo sem muitas características fechadas, há quem diga que já estamos vivendo a quarta onda do café. Mais que a terceira, este é o momento em que as pessoas apreciam cada vez mais os cafés especiais. Uma outra característica é a tecnologia, que está presente tanto na etapa de produção quanto no método de extração da bebida.

O acesso à informação vem ficando mais fácil pelos quatro cantos do mundo e, por isso, a busca e o encontro de novos dados sobre a bebida têm crescido ainda mais. Cada vez mais, as pessoas sabem manusear, conhecem as características dos grãos, sabem quando eles são de qualidade e buscam apreciar um bom café de forma detalhada.

Os consumidores não só conhecem, como também preparam os cafés especiais nas suas próprias casas, principalmente com o surgimento de tantos equipamentos portáteis que são destinados ao uso doméstico.

Vale ressaltar que a relação das pessoas com o café não se anulou ou mudou bruscamente de uma onda para outra. Na verdade, as características de cada onda se misturaram e se complementaram, transformando a forma como consumimos esta que é a segunda bebida mais popular do mundo.


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